Mês de maio prenuncia para mim o mês das plantas, das ervas e das rosas.
E sei que isso é meio sem sentido… ou melhor, para mim, pessoalmente, tem todo. Explico: abril, para mim, é um mês de cravos. Sempre foi. Então, o que vem depois da luta, dos cravos e espinhos, é a suavidade das rosas e dos matos. Uma coroa de louros. Um buquê de noiva. Uma coroa fúnebre. A mudança de ciclo tem um cheiro e um colorido específicos.
Como retribuição ao mundo vegetal, registro, singelamente, um pouco do que aprendi e aprendo com as plantas.
Aprecie um dueto
Consta que, para aprender com as plantas, é fundamental querer conversar com elas… Não só com elas, né? Com tudo. O importante é sair do pedestal, deixar de se achar um ser superior e saber que, sim, as plantas têm uma comunicação interna entre elas e são mais inteligentes do que muitos bípedes da nossa raça que andam por aí.
Ao encontrar com uma planta, busque o diálogo sincero, amistoso e fraterno. Com o mundo vegetal, você pode exercitar a comunicação e se tornar um mestre da impecabilidade com as palavras.
Quer seja cuidando do jardim, parado numa praça florida, molhando as plantas de casa, cuidando dos vasos, receba o que elas têm a dizer no seu olhar e ao seu toque. Escute-as.
Quer seja comprando uma muda ou rosas para a pessoa amada, ou ervas para um banho de descarrego, converse com elas. Fale com elas sobre o seu pedido, sobre aquilo que está em seu íntimo, aquilo que você não pode falar por aí. Confidencie.
Vá além das palavras
Como sábias e poderosas que são, as plantas não se deixam levar pelas palavras. O que importa é o que está por trás e além delas. Assim, elas se relacionam com o que está além da superficialidade.
Às vezes nos enganamos com uma visita que recebemos em casa. Mas a planta não. Ela capta e limpa, absorve e nos protege, de forma anônima, e sem buscar recompensas.
Observe com quem você se relaciona. As plantas são um excelente indicador de relacionamentos. Com aquela pessoa que seca a sua Pimenteira, tenha cuidado. Com a outra que amarela a sua Arruda, não a convide mais para sua casa. Sabe aquela pessoa que queima a sua Espada de São Jorge? Corte as ligações com ela.
Saiba ler as mensagens das plantas. Elas são excelentes mensageiras.
A vida se processa em ciclos
Por falar em amarelar, mudar de cor para as plantas não é sinal de fraqueza. Significa que o giro da vida chegou, a mudança de ciclo fez o seu rodízio. Sim, se amarelou, não volta mais ao que era antes; se esverdeou, é porque chegou o momento.
As plantas adoram quando você as poda. Demorei a entender isso. Elas precisam finalizar o ciclo, para a vida se manter, para elas se realizarem…Não há dor, não há luto. Há uma alegria diferente que nós, humanos, desconhecemos e somos educados a desconhecer.
Pensamos na perda, no apego a uma fase da vida, como se pudéssemos manter tudo do mesmo jeito, sempre conhecido e confortável para a gente, dentro desse Universo misteriosamente impermanente.
Elas não têm medo da mudança. Há uma presença de certeza coletiva, de entrega à natureza, que me impressiona.
Lembro do que disse Confúcio num certo dia e que me deixou confuso, mas que hoje entendo bem: “A ruína ameaça todo aquele que tenta preservar um estado de coisas”.
Então, pode a si mesmo, no sentido de retirar de você o que não é mais adequado, o que antes tinha todo sentido, mas que agora irá apenas ferir a sua verdade.

Cumpriu seu papel, desempenhou sua missão. Serviu ao seu propósito. Foi um benefício… mas, agora, manter isso seria somente ruína e desconstrução.
Morra-se, reinvente-se quando chegar o momento.
O amor não tem pressa
Não se afobe não, que nada é pra já, diria o poeta que homenageio neste texto.
Tudo tem o seu tempo. Não tenha pressa. Não perca o tempo do agora.
Há uma beleza única no processo de desabrochar da flor, das estações que se completam e deixam tudo muito mais rico.
Quem cuida de plantas já sentiu o quanto é maravilhoso o momento em que surge um botão de Rosa e quando ela, a Rosa, um belo dia, desabrocha.
O processo é algo que a nossa civilização está, infelizmente, perdendo. Isso é perder um pouco da sua humanidade, ou melhor, da percepção da sacralidade da vida.
Estamos perdendo o orgânico, o que vem da Mãe Terra, o que nos conecta com o Todo e o que vem dos processos naturais do bem viver.
O processo de fazer um café, de cuidar das coisas cotidianas, de elaborar um texto, de fazer um atendimento continuado, de desenvolver um relacionamento, é o mesmo processo de regar uma flor, de colocar a terra, de incluir um adubo, de desenvolver uma técnica de cultivo.
Isso vale para tudo. Para todas as áreas da sua vida. Cultive. Celebre o processo.
Não se compare ao outro
O barato das plantas é que não há competição entre elas. Uma flor também é um tipo de flor que nem outro tipo de flor e todas têm seu valor, sua importância.
Cada planta busca o seu melhor. Cada uma sabe o seu papel, seu lugar no mundo. Sabe aquela sensação boa de estar alinhado com o seu propósito? Você vê isso olhando para uma planta.
Uma Samambaia não se compara com uma Orquídea. Um Cacto não fica amuado com uma Brinco-de-Princesa ao seu lado.
Outra coisa bem interessante que aprendi convivendo com elas é que não há individualidade. Uma Amarylis, quando desabrocha em flor, todas da sua coletividade ganham. Há um ganho coletivo da espécie. É uma felicidade que as envolve. E essa vibração envolve o mundo ao redor. Todos os seres viventes da Mãe Terra ganham, também.

As plantas, o mundo vegetal em geral, se conectam telepaticamente entre si, numa comunicação harmônica, incompreensível para bípedes como nós.
Ou seja, buscar ser a expressão do seu melhor não significa que você é superior ao próximo. Esqueça a tolice da busca pelo poder com o intuito de dominação, com a ilusão da supremacia. Não há dominação entre iguais. Quando você melhora, todos melhoram. O inconsciente coletivo melhora.
O caminho de tanto amar
Amo tanto falar sobre isso que me encanta tanto: o caminho do coração.
Não existe somente um terreno bom e adequado para cultivar. Existe, sim, a terra boa, o caminho bom, para aquela específica planta. Cada caminho é único.
Para a Rosa do Deserto, o terreno de igapó amazônico não é o adequado. Já pensou se uma Vitória Regia quisesse porque quisesse se criar no sertão do Piauí? Não se criaria.

Elas não se encasquetam com o que não é da natureza delas. Seguem o coração. O caminho do coração delas.
Então, saber sobre si, sobre a sua natureza, o seu papel e a sua missão faz com que você queira somente seguir o seu caminho.
Entregue-se à sua natureza e aos seus desígnios. Encontre seu habitat, seu canto, sua ordem e a sua família.
Honre a sua semente
Gosto muito da lição que aprendo com as plantas, sobre se empenhar para cada dia ser o melhor que puder ser, para se tornar aquilo que você já é e que, na verdade, sempre foi.
O poder da semente.
A semente não precisa de nenhum evento externo que confirme que ela é algo a mais do que seu estado atual.
Isso é a magia da autorrealização.
Claro que isso tem muito a ver com o autoconhecimento. Não seja uma semente de Girassol querendo ser um Trevo. Não dará certo. E não culpe o destino. Na verdade, tire a culpa da sua vida de todas as formas. Não há por que se frustrar desnecessariamente.
Busque se conhecer melhor e se identificar sem culpa, pena ou remorso de qual tipo de semente você é. Ao se aceitar, se enraíze naquilo que lhe faz ser você, para ter forças de se materializar e se expressar da melhor maneira possível.

A necessidade do discernimento
Interessante é saber que não é porque é da natureza que, necessariamente, vai fazer bem a você.
É importante ter o discernimento e deixar o oba-oba e o bundalelê.
Uma Urtiga é da natureza, é uma planta, mas vá abraçá-la e beijá-la com ternura…
Não é porque brilha, reluz, que vai lhe iluminar. Atenção. Cuidado.
Nem todos os caminhos levam ao mesmo fim e é importante ter conhecimento para saber identificar a diferença entre armadilhas e oportunidades.
A diferença entre um remédio e um veneno, às vezes, está num detalhe, numa pequena dose.
Sim, amigo, não tem jeito, o mundo vegetal nos convida ao estudo. De nós mesmos.
Álvaro de Matos
Como boa amante das plantas, fiquei emocionada com esse texto. Tão completo e tão verdade. Obrigada!
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Nicole, querida! Ficamos muito felizes com seu comentário. Beijão grande!
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Texto lindo!
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Querida Adriane, gratidão!!
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